quarta-feira, 29 de setembro de 2010

21

        Noticiário marrom da TV: (...) O jogo contou com a presença de diversas celebridades. Campeãs mundiais de vôlei de praia, as veteranas %$?#! e *@%$& armavam as jogadas para desfecho dos artistas, que eram ovacionados pelas tietes sempre que cravavam a bola na quadra adversária. Já o cantor Djavan não mostrou muita afinidade com a bola. Porém, pelos olhares e sorrisos maliciosos que lançou sobre %$?#!, deixou claro que, além de música, ele entende muito é de sedução.

20

        Noticiário da TV: Ondas gigantes, com cerca de 10 metros de altura, castigam o litoral. Um banhista teve a cabeça arremessada fortemente contra uma parede de cimento rústica e sofreu ferimentos graves. Eu e Lídia estamos numa loja de roupas femininas, localizada no Jardim Utinga. Ela passeia pela loja e me deixa incumbido de escolher lingeries para ela. Apesar de grande, a loja é simples e vende peças sem sofisticação, mercadoria barata, o que dificulta minha escolha, pois conheço o gosto refinado de Lídia. Escolho uma calcinha alta, bege; um soutien verde-água com renda; e um biquíni amarelo de algodão. Receio que ela não goste de nada. Caminho pela loja à sua procura e encontro, na entrada da escada que leva ao piso inferior, Tereza, o Dr. Ivan e a filhinha. Nos cumprimentamos com apertos de mão, meio-abraços e sorrisos.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

19

        É noite. Transmutado em minha forma parte homem, parte cão, parte fêmea, caminho rápido, mal tocando os pés no chão, na calçada que margeia a avenida da praia. Acompanham-me dois animais, talvez dois cães, ou quase-cães. Cada um de um lado. As pessoas com quem cruzo me olham assustadas, desviam os passos, às vezes o olhar. Estou indo me encontrar com outra besta. Sei que ela me aguarda em um edifício em obras. Caminho toda a extensão da avenida, até o Forte, sem encontrá-la. O dia começa a amanhecer, tornando o céu mais claro, acinzentado. Em minha forma humana, com meu pai e irmão, volto meia quadra e entro no prédio com o intuito de fazer o meu plano de saúde. Ficamos na terceira posição da fila. O atendente chama o próximo. Meu irmão se posiciona no balcão. O funcionário pede algumas informações e ele explica que sou eu o interessado. Me aproximo e ele inicia o atendimento. Informo que o plano é Omint.

18

      Uma paisagem bucólica foi a que escolhemos para a gravação do vídeo de nossa e-session. Morros, grama verde, árvores, pássaros, uma cachoeira, um riacho... Juntos, eu e Lídia. Eu. Sentado sobre uma pedra alta, com os olhos carregados de expressão, canto forte uma canção árabe, que provavelmente fala de amor, enquanto o vento bate em meu rosto e esvoaça meus longos cabelos, deixando-os eriçados, como costumava usá-los na juventude. 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

17

        Nós cinco estamos no Chaveiro Juninho. Meu tio pede para que eu pegue a Kombi e a estacione em frente ao chaveiro. Concordo em atender ao pedido, porém inseguro, com medo de fazer alguma merda. Afinal, entre outras coisas, não sou um bom motorista. Sento-me ao volante e, antes mesmo de dar a partida no motor, meu primo e o quinto empurram a perua. Estou aflito, sem saber o que fazer. Bato a Kombi no carro estacionado à frente. O carro é levado para dentro e o Juninho observa a porta da caçamba, que ficou bastante danificada. Ele mexe na porta e ela quase cai. Na esquina, atravessando a rua para o outro lado, em direção ao mercadinho, avisto o Luiz Gonzaga, vestido de roupas brancas com tiras coloridas, extravagantes e chapéu com mesmo tema. O fato de vê-lo me causa alvoroço. Logo, lembro-me de que ele é velho amigo do meu avô. Timidamente, grito "Luiz Gonzaga!". Ele me responde com um aceno de mão, porém com a cabeça voltada para o outro lado, a fim de checar se nenhum carro está vindo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

16

         Algo estranho está acontecendo. O pânico está instaurado e não apenas em nós. Saímos correndo o mais rápido que podemos do aeroporto. Já sobre a passarela, como que pressentindo algo, nos voltamos para trás e vemos uma aeronave que desce aceleradamente em direção ao solo. Explosão, fogo e medo. Nos abaixamos enquanto destroços sobrevoam nossas cabeças. Novas explosões são ouvidas, longe e perto. Abro os olhos e noto o clima da cidade mais cinza... Susto. Algo parecido com um míssil cai próximo a nós. Meu coração bate acelerado. Apesar do temor, juntos erguemos o pesado objeto e o arremessamos para fora da passarela. Observo sua queda... seu fogo... sua estrondosa destruição. Prédio casas rua pessoas, o que estava aqui, abaixo dos meus olhos, é, agora, apenas fogo, fragmento, dor e culpa.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

15


        Vou com a escola em excursão ao Playcenter. O ponto de encontro da turma para embarque no ônibus é o teatro, localizado no prédio em que outrora fora a Igreja do Bonfim, no Parque das Nações. Sou um dos primeiros a chegar. Sento-me em uma das poltronas da plateia e aguardo os demais. Conforme vão chegando, os observo e percebo que estou vestido inadequadamente para o tipo de passeio. Trajo um vestido acinturado, a um palmo acima dos joelhos, feito de carpete preto, com um bojo vermelho que contorna o peito. Não há tempo para voltar para casa e trocar de roupa. Preciso ser rápido e comprar uma bermuda e camiseta nas imediações. Peço licença aos meus colegas e saio em disparada em direção ao Carrefour. Chegando lá, giro entre as seções à procura da de roupas. Com a demora, a ansiedade aumenta. Temo não voltar a tempo da partida. Desço a escada rolante e encontro a seção. As prateleiras estão repletas de casacos felpudos, de pelos longos e cores fortes, azuis, cor-de-rosa, amarelos... O desespero cresce a cada corredor. Não vejo nada além de casacos felpudos coloridos.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

14

        
        PART 1
        A fachada é de vidro, com duas entradas, sendo uma delas uma porta giratória bastante estreita com logotipos do Banco Real. Devido à estreiteza, me posiciono com dificuldade entre as suas abas e empurro para girá-las. Em meio giro a porta trava. O segurança, que está do lado de dentro, indica que a outra porta é a correta. Dirijo-me a ela e entro. O escritório é grande e repleto de escrivaninhas, computadores, telefones, pessoas trabalhando e eu, ex-funcionário. Não é meu desejo estar aqui. Chegar até o fundo não será fácil, também nada agradável.

        PART 2
        Como haviam me pedido, consegui o psicólogo para atendê-la. Depois da consulta, ela (pessoa) e o psicólogo nos encontram, meu pai e eu, próximos à escada rolante. O pé direito é bem alto, o teto é de vidro, a iluminação é natural, há plantas decorando o ambiente. Antes mesmo de nos cumprimentar, o psicólogo descreve a análise que fez sobre ela e emenda, sem pausa, sem que ninguém o perguntasse, uma análise sobre mim. Diz que eu não vou falar, no sentido de que eu me escondo sobre a sombra de meu silêncio. Enquanto fala, meu pai, com uma expressão de espanto, segurando a fala, espera pela conclusão do psicólogo. Assim que este termina, meu pai me chama de lado para conversar. Sentamos em uma mesa na praça de alimentação. Ele, preocupado, explana sobre a importância de eu ter um filho. Eu como sempre, cuidadosamente, exponho meu ponto de vista e explico meus motivos de não ter um nesse momento.

        PART 3
        Em frente ao carro, Lídia e eu discutimos sobre o significado do presente que ganhamos de sua tia, a nada apreciada. São duas cartas, uma para cada, tendo a minha estampado o naipe de ouros, o qual chamo de "pentagrama". Ao meu ver, trata-se de um símbolo que representa o mal. Conturbado, nos pergunto por qual motivo ela me dera aquela carta. Quero encará-la e perguntar quais foram as suas intenções. A Lídia me segura, tenta me impedir de ir ao seu encontro. Eu ignoro seus pedidos aflitos e sigo até a loja da tia. Ela é proprietária de uma loja de artigos religiosos no bairro de Camilópolis. A loja é pequena e escura, e possui centenas de imagens, colares, miçangas, velas, incensos... Atrás do balcão há duas senhoras a quem me dirijo perguntando pela tia. A mais velha me responde que ela não está. Não acredito e vocifero insistindo que quero falar com ela, pois desejo que me explique o significado daquela carta. A senhora continua a tentar me convencer de sua ausência, enquanto eu a procuro por entre as frestas da cortina dependurada na porta que dá para os fundos. Nada vejo. Transtornado, me viro em direção à saída e chuto e arremesso tudo que está em meu caminho, até me dar conta da besteira que estou fazendo. Saio da loja.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

13

        Meu quarto é pequeno. Tamanho suficiente para a cama de casal, os armários e um espaço em "L" entre os dois. A luz acesa dá um tom amarelado ao ambiente. Com meu consentimento dividimos a cama. Ela, por algum motivo, nada grave, precisa passar uma ou mais noites aqui. É apenas uma garota que, apesar de bonita, agradável e de estar com seu corpo repousado próximo ao meu, não desperta em mim nenhum sentimento além de amizade e respeito. Seu namorado bate na porta e entra devagar. Diferente do que eu esperava, ele não se descontrola ao ver sua companheira entre as cobertas de minha cama, embora seja nítido o desconforto que tenta velar sob as falsas expressões de seu rosto. Ele diz a ela que vai passar o domingo fora, resolvendo algumas coisas e que ela pode utilizar seu notebook, que deixou configurado para o uso dela. Coloca o computador sobre a cama. Ela agradece. Ele se despede e sai. Eu termino de me vestir para o trabalho.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

12

        O presidente do Senado está no litoral. Eu e um grupo de pessoas, creio que em sua maioria senhoras, aguardamos sua chegada em frente ao portão da casa. Não entendo porque estamos esperando por alguém tão malvisto pela sociedade. As senhoras têm em mãos rosas cor-de-rosas para entregar-lhe. Minha tia Dolores dá-me uma para que eu também a entregue. A flor tem espinhos, é incômodo segurá-la. Tento removê-los, mas me machucam. Então, desisto. O presidente se aproxima. Caminha mancando, apoiado em sua senhora. É mais velho do que eu imaginava. Seus cabelos são branquinhos e desgrenhados. As roupas, simples. Calça de moletom e camisa social. As mulheres chegam mais perto para a entrega das rosas. Numa última vã tentativa, tento a remoção dos espinhos. Antes de entregar-lhe, aviso-o para que tenha cuidado com eles. Por um breve momento, humanizei sua figura e tive compaixão por ela.

11

        No lugar em que deveria estar o fogão está a máquina de lavar roupas, na cozinha da antiga casa da Paulo Setúbal. Estou lavando as roupas a pedido da minha mãe. Não me sinto a vontade fazendo isso, acho que não sei lavar muito bem. O rapaz chega para me ajudar. Nunca o vi, mas sei que o conheço. Passo a ele o controle da máquina, que manuseia com muita habilidade. Abre a lavadoura de um modo diferente, deixando à mostra, em seu interior, passando por cima das roupas, duas chapas quentes de metal. Sobre elas arremessa quatro grandes e gordurosos hambúrgueres que, automaticamente, começam a fritar, levantando fumaça e espirrando gordura quente para todo o lado. Desesperado, tento impedi-lo de continuar, tento retirar a carne da chapa, peço que pare. Me bloqueia, me ignora, continua seu movimento. Clamo pela Lídia, que vem e nada pode fazer. Minha mãe procura me acalmar e fala, como se quisesse me lembrar, que ele tem problemas de ordem mental. Mesmo estando inconformado com a sujeira e a atitude, sigo em retirada, com o consolo das mãos da Lídia. Paro e olho para trás. Ele, ocupado com a fritura, gira suavemente a fronte em minha direção. Percebo, então, em seu olhar de dor, seus olhos azuis esbranquiçados.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

10

        O Netto está machucado. A porrada parece ter sido forte. O lado esquerdo do rosto está quebrado, afundado, mole. Sua mente sabe de quem é a culpa.  Destino de quem usa crack.

09

        Estamos trabalhando na reforma do escritório, que fica na antiga casa da Paulo Setúbal. No quintal, eu, a Sheila e seu namorado. Olhando pela janela do que outrora fora o quarto da Emília, vejo o Matias agachado, consertando o piso de taco, enquanto o Valdinei, em pé, com sua cara de "desculpas", o observa desocupado. O trailer está estacionado no campo - paisagem interiorana. Do lado de fora a Sheila exibe seu novo celular. É bem pequeno, parecido com um pregador de folhas de papel. Possui poucos botões, porém cada um com diversas funções - complexo. Ela me explica que para discar "1" devo apertar três vezes a tecla "0-3". Faço minha cara de "que legal" pensando "que saco". Sigo para a rádio acompanhado da minha mãe e do Almir. A Sheila e seu namorado foram na frente, antes de nós, mas o namorado, de espírito vagabundo, desviou-os do caminho e da responsabilidade. O Almir relembra o passado e nos conta com melancolia da felicidade e das oportunidades perdidas, do bom que não volta, enquanto entramos na Rua Sidnei. Na porta da rádio está a menina, bastante jovem, pele negra, duas maria-chiquinhas prendendo os cabelos crespos, com seus discos de vinil. Sua mãe, que não é mais a minha, nervosamente lhe chama a atenção por estar tocando na rádio músicas tão velhas, alegando que ninguém vai querer ouvi-las. Ela baixa a cabeça em sinal de respeito - entristecida. São discos maravilhosos, raros, de sambas antigos. Toco a campainha e a Milene vem nos receber ostentando o mesmo sorriso tímido, porém com o rosto levemente inchado - marcas da idade. No sofá da sala está sentado seu namorado, que nos cumprimenta com um olhar desajeitado. Parece que interrompemos uma discussão do casal. Dirijo-me à cozinha e de lá saem duas amigas da Milene. Uma delas, a dentucinha, me parece familiar. Talvez a tenha visto há muito tempo atrás. Não nos manifestamos. A mesa está posta para o café da tarde. Aguardamos o Matias com os pães.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

08

        22h45. Saída da escola, com meus colegas de classe caminho pelas ruas escuras do bairro. Há uns caras diferentes entre nós. São amigos do meu colega que tem os cabelos loiros compridos e que usa um boné preto. Não confio em nenhum deles. Caminho a alguns centímetros à frente. Conversam baixo, em meias palavras. Precavendo-me, transfiro minha carteira para o bolso dianteiro da calça. Caminhamos... Meu bolso traseiro é atacado violentamente, chegando a levantar meus pés do chão, por um dos estranhos desatento que pretendia roubar minha carteira. Indignado e possuído pela raiva, esbravejo contra o "alemão", acusando-o de ter planejado o assalto. Sua postura e a dos demais confirmam minha suspeita. Discuto com eles num vocabulário malandro. O grupo volta-se contra mim. Pretendem me linchar. Não sou páreo para todos. Adrenado, corro. Escolho direções aleatórias, quero despistá-los. Consigo. Superando o medo e o ódio, tento acalmar minha respiração.

07

       Litoral, sol e aventura. Em um Jipe conversível seguimos em estradas de terra, subindo morros banhados pelo mar. Com meu paraglider sobrevoo o límpido verde escuro do mar. Vento na face. Suspiros. Liberdade. Pouso entre surfistas na arrebentação. Noite. Faço uso de uma técnica antiga para escapar dos golpes das ondas. Submerjo e deixo que elas quebrem sobre a minha cabeça. Apesar da habilidade, a frequência provoca-me fadiga, falta de ar. O surfista é ovacionado por um grupo de banhistas (com muitas gostosas de biquíni) que festeja à beira-mar. Um repórter de TV o aborda pegando-o pelo braço para que receba a premiação, que ao meu ver seria uma punição, apesar de não haver motivo aparente. Um jumento faz sexo oral no surfista, que parece gostar da bizarrice. Os dentes do asinino são grandes e fortes, a impressão que tenho é a de que o deceparão. O repórter então o orienta a assumir nova posição e empurra o jumento por trás com suas calças arriadas.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

06

        O prédio, o apartamento da minha tia Néia na Praia Grande. Eu espero, para descer, o elevador, com o Marcelo. Na sala, eu, a Gabi, a Sushi e um gafanhoto dos grandes, bege, de cabeça redonda, calvo, nariz-de-batata, feições humanas. Como uma montagem em computação gráfica. Ele não é bom. Saltita de um lado para o outro com uma expressão estática, sem esboçar emoção, enquanto a Sushi, em sua plenitude felina, tenta capturá-lo. Com o fim de eliminar a criatura, arremesso fios de arame firmes e pontiagudos contra aquele ortóptero saltador, que se esquiva habilmente. Em meio à luta, noto um pequeno furo no olho esquerdo da gata jorrando um sangue fino e claro. O desespero, o pavor, o arrependimento, a culpa me consomem. Saio em disparada sem direção, aos prantos e berros, fugindo dos sentimentos. Em frente ao posto Esso da Avenida dos Estados, no Bairro de Santa Terezinha, em Santo André, paro ofegante e puno-me em pensamento por mais um erro cometido.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

05

        PART 1 - Sem nébula
        Noite tensa - discussões, explosões... calma. Deito em nossa cama, vamos dormir.

        PART 2 - Nébula
        De repente o quarto se enche de música. "Inútil Paisagem" na voz de Elis Regina. Pela qualidade do som, distorcido, como um pequeno autofalante com volume saturado, chego a acreditar que provém de meu iPod, que às vezes deixo embaixo de meu travesseiro. Estou assustado.Meu corpo vibra intensamente. Deslizo em direção aos pés da cama em alta velocidade, mas sem sair do lugar. Ela continua deitada ao meu lado, imóvel, ausente aos acontecimentos. Com esforço descomunal, articulo meu aparelho fonador e tento pedir por ajuda. Chamo por minha irmã "M.m.â..gh*.", mas recobrando a paraconciência de que ela não está ali chamo por minha esposa, aproximadamente três vezes. A minha voz é grave, em tom muito baixo, a articulação é rígida e lenta. As sílabas, os fonemas soam espaçados, praticamente inaudíveis em meio ao caos. O desespero cresce. Penso em orar, funcionou outras vezes, mas não me lembro de nenhuma oração. "Pra que tanto céu..." - meu corpo é lançado para o alto e, de costas para o teto, de braços e pernas abertas, gira aceleradamente como uma hélice. Uma voz estranha, macabra, gargalha alto, no entanto mais baixa que a música. A sensação é de que sou alma fora do corpo. A música cessa.

        PART 3 - Sem nébula
        O quarto é silêncio e breu novamente. Ela serena ao meu lado, minha mão sob a dela.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

04



        Na sala daquela casa estavam alguns amigos (talvez o Marquinhos, o Tiano e outro(s)) e um piano. Resolvi dedilhar o piano. Nossa, como toco bem! Como é fácil! Como beber um copo d'água. Sim, claro, eu toco.

terça-feira, 4 de maio de 2010

03


        O Dr. Tufik vai ajudar aquele pai e filho sem lar. Ele, branco, alto, cabelos e barba grisalhos por fazer (há pelo menos uns três meses). O filho, uns nove anos, cabelos lisos castanhos. Estão na rua daquele bairro periférico. No meio da rua. Um pouco mais atrás, o Dr. André observa a movimentação. O pai, aparentemente embreagado, fala alto e gesticula, chuta uma bola sem direção, enquanto o Dr. Tufik com um sorriso de bondade tenta acalmá-lo. O filho olha indiferente e sai pela rua logo atrás à esquerda, seguido pelo seu pai depois de alguns segundos. Saio e volto para casa. É o começo da noite. A casa tem fachada estreita. A entrada possui duas portas, que dão para a rua. A primeira, grades de ferro. A segunda, de madeira, com uma janelinha. Móveis, prateleiras, racks, objetos diversos, livros tomam o cômodo mal iluminado e desorganizado. Divido a moradia com o Paschoal e dois colegas, sendo um deles gay. O colega gay, de toalha amarrada na cintura, acabara de sair do banho. Causou-me certo desconforto, pois o que pensarão de mim se me virem sozinho com um gay semi-nu. Ele me disse que o melhor para desestressar é dar "uminha". Falou isso sem segundas intenções para comigo, mas em tom de conselho. Ele usara da técnica desestressante há pouco. Eu respondi concordando com ar de virilidade excessivo. Ele estava no cômodo três lances de escada abaixo, que era uma garagem adaptada em algo parecido com uma sala e quarto também desorganizados. O Paschoal chegou.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

02

        Sempre que resolvo me barbear por completo, acertar a costeleta é o maior desafio. O meio da orelha é o meu ponto de referência. Porém, a gilete insiste em passar do limite. Então o lado direito passa a ser referência para o esquerdo o esquerdo para o direito o direito para o esquerdo... Raspei acima da orelha. Como uma entrada de uma maquininha desgovernada. Não foi tão ruim assim.

01

        Na cozinha da casa da minha avó, eu sentado à mesa. Meu avô entra. Ele não vai me reconhecer, afinal a cabeça já não anda muito boa. "Sé - gi - nhôô!". Me surpreendi.