quinta-feira, 6 de maio de 2010

05

        PART 1 - Sem nébula
        Noite tensa - discussões, explosões... calma. Deito em nossa cama, vamos dormir.

        PART 2 - Nébula
        De repente o quarto se enche de música. "Inútil Paisagem" na voz de Elis Regina. Pela qualidade do som, distorcido, como um pequeno autofalante com volume saturado, chego a acreditar que provém de meu iPod, que às vezes deixo embaixo de meu travesseiro. Estou assustado.Meu corpo vibra intensamente. Deslizo em direção aos pés da cama em alta velocidade, mas sem sair do lugar. Ela continua deitada ao meu lado, imóvel, ausente aos acontecimentos. Com esforço descomunal, articulo meu aparelho fonador e tento pedir por ajuda. Chamo por minha irmã "M.m.â..gh*.", mas recobrando a paraconciência de que ela não está ali chamo por minha esposa, aproximadamente três vezes. A minha voz é grave, em tom muito baixo, a articulação é rígida e lenta. As sílabas, os fonemas soam espaçados, praticamente inaudíveis em meio ao caos. O desespero cresce. Penso em orar, funcionou outras vezes, mas não me lembro de nenhuma oração. "Pra que tanto céu..." - meu corpo é lançado para o alto e, de costas para o teto, de braços e pernas abertas, gira aceleradamente como uma hélice. Uma voz estranha, macabra, gargalha alto, no entanto mais baixa que a música. A sensação é de que sou alma fora do corpo. A música cessa.

        PART 3 - Sem nébula
        O quarto é silêncio e breu novamente. Ela serena ao meu lado, minha mão sob a dela.

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