quinta-feira, 12 de agosto de 2010

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        PART 1
        A fachada é de vidro, com duas entradas, sendo uma delas uma porta giratória bastante estreita com logotipos do Banco Real. Devido à estreiteza, me posiciono com dificuldade entre as suas abas e empurro para girá-las. Em meio giro a porta trava. O segurança, que está do lado de dentro, indica que a outra porta é a correta. Dirijo-me a ela e entro. O escritório é grande e repleto de escrivaninhas, computadores, telefones, pessoas trabalhando e eu, ex-funcionário. Não é meu desejo estar aqui. Chegar até o fundo não será fácil, também nada agradável.

        PART 2
        Como haviam me pedido, consegui o psicólogo para atendê-la. Depois da consulta, ela (pessoa) e o psicólogo nos encontram, meu pai e eu, próximos à escada rolante. O pé direito é bem alto, o teto é de vidro, a iluminação é natural, há plantas decorando o ambiente. Antes mesmo de nos cumprimentar, o psicólogo descreve a análise que fez sobre ela e emenda, sem pausa, sem que ninguém o perguntasse, uma análise sobre mim. Diz que eu não vou falar, no sentido de que eu me escondo sobre a sombra de meu silêncio. Enquanto fala, meu pai, com uma expressão de espanto, segurando a fala, espera pela conclusão do psicólogo. Assim que este termina, meu pai me chama de lado para conversar. Sentamos em uma mesa na praça de alimentação. Ele, preocupado, explana sobre a importância de eu ter um filho. Eu como sempre, cuidadosamente, exponho meu ponto de vista e explico meus motivos de não ter um nesse momento.

        PART 3
        Em frente ao carro, Lídia e eu discutimos sobre o significado do presente que ganhamos de sua tia, a nada apreciada. São duas cartas, uma para cada, tendo a minha estampado o naipe de ouros, o qual chamo de "pentagrama". Ao meu ver, trata-se de um símbolo que representa o mal. Conturbado, nos pergunto por qual motivo ela me dera aquela carta. Quero encará-la e perguntar quais foram as suas intenções. A Lídia me segura, tenta me impedir de ir ao seu encontro. Eu ignoro seus pedidos aflitos e sigo até a loja da tia. Ela é proprietária de uma loja de artigos religiosos no bairro de Camilópolis. A loja é pequena e escura, e possui centenas de imagens, colares, miçangas, velas, incensos... Atrás do balcão há duas senhoras a quem me dirijo perguntando pela tia. A mais velha me responde que ela não está. Não acredito e vocifero insistindo que quero falar com ela, pois desejo que me explique o significado daquela carta. A senhora continua a tentar me convencer de sua ausência, enquanto eu a procuro por entre as frestas da cortina dependurada na porta que dá para os fundos. Nada vejo. Transtornado, me viro em direção à saída e chuto e arremesso tudo que está em meu caminho, até me dar conta da besteira que estou fazendo. Saio da loja.