Estamos trabalhando na reforma do escritório, que fica na antiga casa da Paulo Setúbal. No quintal, eu, a Sheila e seu namorado. Olhando pela janela do que outrora fora o quarto da Emília, vejo o Matias agachado, consertando o piso de taco, enquanto o Valdinei, em pé, com sua cara de "desculpas", o observa desocupado. O trailer está estacionado no campo - paisagem interiorana. Do lado de fora a Sheila exibe seu novo celular. É bem pequeno, parecido com um pregador de folhas de papel. Possui poucos botões, porém cada um com diversas funções - complexo. Ela me explica que para discar "1" devo apertar três vezes a tecla "0-3". Faço minha cara de "que legal" pensando "que saco". Sigo para a rádio acompanhado da minha mãe e do Almir. A Sheila e seu namorado foram na frente, antes de nós, mas o namorado, de espírito vagabundo, desviou-os do caminho e da responsabilidade. O Almir relembra o passado e nos conta com melancolia da felicidade e das oportunidades perdidas, do bom que não volta, enquanto entramos na Rua Sidnei. Na porta da rádio está a menina, bastante jovem, pele negra, duas maria-chiquinhas prendendo os cabelos crespos, com seus discos de vinil. Sua mãe, que não é mais a minha, nervosamente lhe chama a atenção por estar tocando na rádio músicas tão velhas, alegando que ninguém vai querer ouvi-las. Ela baixa a cabeça em sinal de respeito - entristecida. São discos maravilhosos, raros, de sambas antigos. Toco a campainha e a Milene vem nos receber ostentando o mesmo sorriso tímido, porém com o rosto levemente inchado - marcas da idade. No sofá da sala está sentado seu namorado, que nos cumprimenta com um olhar desajeitado. Parece que interrompemos uma discussão do casal. Dirijo-me à cozinha e de lá saem duas amigas da Milene. Uma delas, a dentucinha, me parece familiar. Talvez a tenha visto há muito tempo atrás. Não nos manifestamos. A mesa está posta para o café da tarde. Aguardamos o Matias com os pães.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
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