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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

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       Tudo corre bem nas férias na praia. É noite e estou com Lídia no show que acontece no terreiro da pousada. O apresentador anuncia o próximo músico, D2, que convida um grupo de deficientes físicos que, por terem seus membros inferiores deformados, pernas atrofiadas, se arrastam até o palco para uma participação especial. O público os observa impressionado - desvia o olhar, sorri - espantado. Não apenas pelo preconceito velado que existe na alma de qualquer ser humano hipócrita que se depara com uma deficiência física, mas também pelo ar sombrio e pelo semblante carregado de dor e ódio que esses homens levam em suas faces. A música começa agressiva, um funk carioca pesado como nunca ouvira. No mesmo instante, se erguem os deficientes, agora em pernas e braços musculosos, desferindo socos e chutes, tão agressivos quanto o som, em todos os que estão à volta, seguranças, público, hóspedes, funcionários da pousada. A voz do cantor rasga a batida do funk assim como é rasgada a pele de quem apanha. Tento me esquivar da confusão, protegendo-a entre meus braços. A selvageria é tamanha que não sei mais de quem me defender. Alguém saca uma arma e atira três vezes. Um tiro acerta um rosto, outro, talvez um corpo. Como os alto-falantes, meu peito vibra, o ar me falta. É o medo da morte.